sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Uma história de pai para filho define um herói



Nossos pais nos contam histórias que nos marcam profundamente. Nunca vamos esquecê-las. Este vídeo traz uma dessas histórias. Quem a conta é Georges Rul, um engenheiro hoje radicado no Rio de Janeiro. Uma das recordações que ele guarda do pai, um ex-integrante da resistência belga em Antuérpia, na Segunda Guerra Mundial, ilustra o que é um herói de verdade. Assista.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

As mortais ondas camelos da Ilha da Trindade


Após três dias de viagem a bordo do navio patrulha Amazonas, da Marinha Brasileira, uma porção de terra começa a aparecer. Vemos no horizonte a Ilha da Trindade. Quem desembarca nela enfrenta uma grande ameaça: a onda camelo, a principal causa de morte neste lugar tão distante. De 17 óbitos entre 1957 e 2018 - período da mais recente ocupação da Marinha -  pelo menos nove são vítimas do fenômeno.

Você deve estar se perguntando: como ocorre a onda camelo? Ela tem esse nome em Trindade, mas é um fenômeno comum em ilhas oceânicas. Ela vem como a corcunda de um camelo; em dupla, em um mar aparentemente calmo. A 'camelo' desperta grande preocupação, sobretudo durante as operações de embarque e desembarque de pessoal e de equipamentos.

Não há porto para desembarcar na Praia dos Portugueses, onde fica a sede do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (Poit). Por isso, o momento traz tensão. Chega-se à terra em bote inflável, puxado por cabo de aço no trecho final até a faixa de areia mais segura, longe da arrebentação. Os passageiros precisam manter a cabeça abaixada. Se o cabo se romper, o risco é um corte fatal no pescoço. E é assim que começa a visita a Trindade.

Praia do amor













A Praia do Príncipe é uma das mais belas da Ilha da Trindade. Segundo o escritor Moacir Costa Lopes, que esteve na ilha na década de 1950, o nome seria uma homenagem a um príncipe. Em 1700, como membro da expedição de Edmond Halley, o nobre teria passado a maior parte de seus dias na ilha, sentado em uma pedra nesta praia. Com olhar perdido no horizonte, pensava na amada, uma plebeia deixada na Inglaterra. Sua mãe o teria enviado na viagem justamente para afastá-lo da jovem.

Apesar da boa história, contada a mim pelo próprio escritor, que tem entre suas obras mais famosas "A ostra e o vento", esta praia ficou marcada por outra razão. Não foi pelo príncipe, o que até hoje não confirmei ter de fato visitado a ilha. É neste lugar que se registra o maior número de mortes provocadas pela onda camelo. No lado direito de quem desce um chapadão, há um rochedo que atrai muito os militares que gostam de pescar. É a Pedra da Garoupa. Quase uma armadilha.

O pedregulho parece o lugar perfeito para pescar. Mas, traiçoeiro. Após lançar a linha, não se demora a pegar um peixe graúdo. A facilidade de uma boa pescaria ocorre, porém, em toda a ilha, rodeada de cardumes, atraídos pelos nutrientes do arquipélago.

A primeira morte provocada pela onda camelo ocorreu quatro anos após a fundação do Posto Oceanográfico. Em 24 de novembro de 1963, o cabo Frutuoso do Carmo Ferreira foi arrastado da Pedra da Garoupa por uma onda. Ao cair na água, a vítima tem poucas chances para retornar. As ondas a jogam contra as pedras. O corpo apareceu próximo, na Enseada da Cachoeira.

As ondas camelôs fizeram mais duas vítimas na Pedra da Garoupa. Em 6 de julho de 1968, morreu o cabo Paulo Murilo de Abreu. O corpo não foi encontrado. Em 20 de janeiro de 1976, o capitão de corveta Eurico Bastos da Rocha foi atingido. O corpo apareceu na Praia do Príncipe.

Pedra da Garoupa


Na única imagem que consegui da Pedra da Garoupa, um vídeo gentilmente cedido por Victor Camilato Brilhante, podemos ter melhor noção dos riscos no local. Dois experientes mergulhadores enfrentam grande dificuldade para deixar a água, mesmo com o apoio de uma corda. Nas duas vezes que estive nesta ilha, uma em 2007 e outra em 2018, não tive oportunidade de ir até lá.

O número de mortos da onda camelo pode ser bem maior. As mortes aqui relatadas se referem apenas ao período mais recente de ocupação da Marinha.

 Em 1957 foi criado, efetivamente, o Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade, e desde então a ilha vem sendo guarnecida por cerca de 30 militares da Marinha do Brasil, que se revezam a cada quatro meses — explica o capitão de fragata Luiz Felipe Silva Santos, o coordenador do Programa de Pesquisas Científicas da Ilha da Trindade (Pro-Trindade).

A descoberta de Trindade ocorreu um ano depois da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Inglaterra e Portugal já ocuparam e exploraram a área.

 Apesar das controvérsias, a maioria dos historiadores concordam que a ilha foi descoberta em 1501 pelo navegador português João da Nova. E, no ano seguinte, um outro navegador português, chamado Estevão (da Gama), deu nome à ilha a partir da visualização do mar de três pontos, que são os picos da ilha. Ele os relacionou com a Santíssima Trindade. Então, batizou a ilha de Trindade complementa Luiz Felipe.

O Arquipélago de Trindade e Martim Vaz fica a aproximadamente 1.200 quilômetros da costa brasileira. Equivale a 400 campos de futebol. Visitas só com permissão da Marinha, mesmo assim se destinadas às pesquisas científicas. 

Mais mortes


 A onda camelo ocorre em várias partes da ilha. Subestimá-la pode ser fatal. Em 16 de outubro de 1979, ocorreu a morte mais estranha de todas. O fuzileiro naval Robson decidiu mergulhar em um dos lugares mais temidos na ilha: o túnel criado pela força das ondas na base do que restou de um vulcão. A profundidade chega a 30 metros e as ondas explodem com violência nas paredes.